terça-feira, 11 de outubro de 2011

nós, as ocupadas

Os homens não percebem o conceito de meio termo.
Não entendem que lá porque não queremos ter uma relação sufocante, nos parâmetros do socialmente aceite, gostamos deles e os queremos por perto. Se somos desligadas, somos desinteressadas. Se conseguimos passar um dia ocupadas com outra coisa que não eles,
é porque eles não são prioridade.
É mentira, cavalheiros. As mulheres podem - e devem - ser independentes de vocês. Não acham que é até uma prova de amor maior nós conseguirmos amar-vos por entre todas as outras ocupações e prazer que a vida nos oferece?
O maior erro é viver de clichés e desejar para nós o que vemos resultar nos outros.
As pessoas não são todas iguais - e apesar de nós, mulheres, adorarmos dizer que os homens são todos farinha do mesmo saco, odiamos quando essa mesma frase se vira contra nós. Não somos todos iguais não senhor; e apesar de sermos todos seres humanos com necessidades primárias idênticas, no que toca a um rol mais detalhado de necessidades, só nós sabemos como estamos e do que precisamos...
Cada casal sabe o que fazer para que resulte, seja isso visto ou não de forma ''normal'' aos olhos dos outros. E se não sabe, é só mais uma razão para que a palavra 'casal' não se aplique.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

nós, as donas do tempo

As mulheres não precisam de rótulos, precisam de orientação. Não precisam de ser chamadas disto ou daquilo, desde que saibam que papel representam. Não, as mulheres não precisam de conhecer os vizinhos nem o piriquito para se sentirem integradas na vida de um homem.
As mulheres precisam, tão simples quanto isso, de sentir um mínimo de segurança e de saber que ele vai estar lá na manhã seguinte, depois do sexo; que ele vai estar lá para o todo o mal, depois do bom.
Seria muito mais fácil não termos, simplesmente, expectativas. Andarmos à deriva, com o sangue morno e sem emoções. Há quem seja claramente capaz disso - eu já fui. Mas é a maior ironia do mundo quando reconhecemos que nos sabe melhor receber algo de alguém por quem esperamos, do que de alguém de que quem nunca quisemos nada.

Às vezes é uma questão de tempo até que a outra pessoa perceba que esperamos todo este tempo por ela. No entanto, às vezes é uma questão de tempo até nós próprias percebermos que estamos a querer esperar demasiado de alguém que não tem nada para nos dar, agora.
Chama-se timing. E é um grande filho da p***.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

nós, as que escrevemos cartas

Não me digas isso.

Odeio quando fazes de conta que não ouves o que te digo e falas por cima do que já pronunciei, como uma estação do ano que vem para suceder a outra. Não, não te vou deixar ser o meu inverno. Isto porque não te vou deixar ser coisa nenhuma na minha vida, ocupa-espaço, parasita de amor. Não me digas isso, já te disse. Eu é que escolho qual a melhor altura para bater a porta e te virar as costas; eu é que decido quando viro a página deste livro maldito que ando a escrever há anos a fio.


Sai daqui, não me toques. Esquece que respiro o mesmo ar que tu, nesta mesma cidade, mesma casa, mesmo quarto, cama, palco. Esquece o que vivemos, porque isto não é vida. Esquece o que tivemos, porque a possessão destrói os amantes; viste como tudo se foi num instante? Como deixamos de sentir o cheiro do mar pela manhã? E como deixamos de ouvir o trânsito enquanto procriávamos sem risco de futuras crias, embalados no ritmo frenético da cidade que nos engolia? Viste? Não, não viste. Nunca viste as dores dos sonhos que plantavas; era sempre eu que estava lá para as colher.


Não me digas isso, não te atrevas. Odeio quando me ignoras, quando elevas o volume e fazes com que a minha fala se perca no eco da tua – como eu sempre me perdi em ti; ou quando fazes uma pausa e dizes, com essa voz séria, irónica, filha da mãe, algo… que sabes que me vai recortar o coração, pelo tracejado, com tesouras de bicos.


Não me digas isso. Não digas, porque sabes que eu fico. Não digas, porque sabes que eu não posso ouvir-te dizer isso. Não. Não. Não digas. Não digas por favor; dói tanto ouvir-te dizer o que eu sei que não é meu, que não possuo, que não criei. É desta possessão louca que te falava: mata os amantes, tristes sonhadores da rebeldia. Dói tanto. Porque me perco de mim, deste limite, deste tracejado. Porque não sei onde tu começas, se afinal de contas eu não termino. Não digas isso. Fazes a pausa longa, colocas a voz. ‘Mas… eu amo-te.’

Foda-se.




25 de Maio de 2010


domingo, 21 de agosto de 2011

nós, as mulheres com coração

As mulheres com coração têm muito que se lhe diga.

- por um lado, uma mulher que deixa que o coração comande todas as suas decisões, acabará por se tornar impulsiva, inconsciente, melodramática; perderá toda a noção da realidade e apenas será devota do sentimento que a domina. Uma mulher com coração é, por isso, vista como frágil, menos competente, mais repleta de erros. Uma mulher com coração é mais propensa a sofrer, a magoar-se, a quebrar.

- ou, por outro lado, uma mulher que esconde o coração que tem é vista como selvagem, fria, indomável; calculista ferrenha, nunca poderá sentir nada verdadeiro, se a sua única ocupação é esconder o coração que de facto tem. Uma mulher que esconde o coração que tem é, por isso, vista como menos mulher. Como pedra de gelo, como insensível, falsa, impostora. Uma mulher que esconde o coração que tem é mais propensa a fazer sofrer, a magoar, a quebrar (outros).


Nem tudo é assim tão radical - antes fosse. Talvez assim não acordassemos a meio da noite sentir falta de algo que nunca soubemos que nos fazia de facto falta. Talvez assim não fitassemos com raiva o fundo do copo de alcool e percebessemos que a bebida anestesia, mas não cura; que as gargalhadas com amigos nos revitalizam, mas não ecoam para sempre na memória; que os abraços, as palavras, os olhares da melhor amiga servem de consolo, mas não substituem aquele olhar ao acordar.
Antes fosse tudo assim tão radical, dividido entre dois tipos de mulher, ambas com coração: as que mostram que o têm e as que o escondem. Seria muito mais simples para os homens perceber-nos e para nós nos encontrarmos. Mas não, não é assim tão fácil.
As mulheres são criaturas disfarçadas. Adeptas do jogo, da sedução, do teatro. Verdadeiras sim, mas com muitas armaduras a proteger a sua carapaça de ouro.
Nem as mulheres deixam de ter coração, nem os homens deixam de o querer encontrar em nós. Simplesmente somos contemporâneos de uma sociedade que vive para além do que sente, por não o querer sentir. Por tanto querermos evitar sofrer, privamo-nos de sentir - e ao temer a queda do avião, privamo-nos da viagem. Mas há tanta, tanta coisa para conhecer neste mundo.... E de certeza que nenhuma de nós foi a mesma mulher a vida toda - uma mulher cujo coração foi partido irá forçosamente escondê-lo até que cure; e uma mulher com o coração escondido pode perfeitamente vir revelá-lo.



Gostar é provavelmente a
melhor maneira de ter,
ter deve ser a pior maneira de
gostar.

José Saramago

quarta-feira, 17 de agosto de 2011